A Medida do Tempo

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Poincaré, H. O Valor da Ciência. Rio de Janeiro: 1995

Todos os estudantes do mundo deveriam ler esse livro de Henri Poincaré. Ele deveria estar listado como bibliografia básica de todos os cursos de engenharia.

O tempo é misterioso e alvo de muitas filosofias, artes e poemas.

Se ele fosse um sabor, seria um agridoce. Se fosse um cheiro, seria o cheiro do vento em meio a natureza. Você sente e sabe que ele está próximo, mas não sabe exatamente onde, porque ele está em todos os lugares. Se fosse um lugar, seria a Matrix.”Ela está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala.”

Em “O Valor da Ciência”, Poincaré discursa sobre a medida do tempo. O que seria essa medida? Como traduzir o tempo que percebemos com os nossos cinco sentidos, que ele chama de tempo psicológico, em um tempo quantitativo?

Poincaré, H. O Valor da Ciência.

Quando dizemos que dois fatos conscientes são simultâneos, queremos dizer que eles se interpenetram profundamente, de tal modo que a análise não pode separá-los sem multilá-los.

A análise mutila a percepção pura. Como?

Poincaré, H. O Valor da Ciência.

[…] Para que um conjunto de sensações se torne uma lembrança suscetível de ser classificada no tempo, é preciso que tenha cessado de ser atual.

O Buda examinou a mente há 400 a.C, aproximadamente, e descobriu que, em termos amplos e gerais, esta se compõe de quatro processos: consciência, percepção, sensação e reação. A consciência é a parte receptora da mente e registra a ocorrência de qualquer fenômeno, de qualquer informação crua sem atribuir-lhe rótulos ou fazer julgamentos. O segundo processo mental identifica, rotula, classifica e faz avaliações positivas ou negativas de tudo o que a consciência recebe. A sensação surge de forma agradável ou desagradável, de acordo com a avaliação feita pela percepção. Se for positiva, surge a sensação agradável. Se for negativa, surge a sensação desagradável. E a última parte da mente, a reação, surge no sentigo de prolongar ou rejeitar a sensação. Se a sensação é agradável, a mente reage desejando mais sensação agradável. Se a sensação é desagradável, a mente reage rejeitando essa sensação.

Então, após a sensação, rotulamos cada informação. Inserimos etiquetas.

Poincaré, H. O Valor da Ciência.

Mas essas etiquetas só podem ser em número finito. Assim sendo, o tempo psicológico seria descontínuo. De onde vem a sensação de que entre dois instantes quaisquer há outros instantes? Classificamos nossas lembranças no tempo, mas sabemos que restam compartimentos vazios.

Poincaré, H. O Valor da Ciência.

Em uma palavra, o tempo psicológico nos é dado, e queremos criar o tempo científico e físico.

Como trabalhar com os dois mundos impenetráveis entre si, o mundo invisível e o visível?

Poincaré, H. O Valor da Ciência.

Portanto, duas dificuldades:
1) Podemos nós transformar o tempo psicológico, que é qualitativo, em tempo quantitativo?
2) Podemos nós reduzir à mesma medida fatos que se passam em mundos diferentes?

Neste ponto, paramos para pensar: nossa como nunca parei para pensar nisso antes? É exatamente isso que Henri Poincaré gera nos leitores de seus livros de divulgação científica.

Vou citar os dois primitivos relógios encontrados pelo mundo civilizado: o relógio de sol e o relógio de água. Ambos desafiando as dificuldades mostradas por Poincaré.

Relógio de Sol

O primeiro relógio foi desenvolvido pelos Egípcios e Babilônicos há mais de 5000 a.C. O funcionamento era baseado na sombra que o sol fazia no objeto.

O relógio de água, também chamado de clepsidra, foi desenvolvido pelos gregos há 500 a.C. O funcionamento era baseado na atuação da força da gravidade em um recipiente com água.

Relógio de Água

Deixo você com duas questões levantadas pelo autor:

Poincaré, H. O Valor da Ciência.

Quando digo que do meio-dia à uma hora passou o mesmo tempo que das duas às três horas, que sentido tem essa afirmação?
Meu presente não está mais perto do meu passado de ontem do que do presente de Sirius?

E assim o segundo item da primeira parte do livro – As Ciências Matemáticas – é finalizada. De forma brilhante, Poincaré evidencia a limitação existente na medida do tempo.

Poincaré, H. O Valor da Ciência.

“A simultaneidade de dois eventos, ou a ordem de sua sucessão, e a igualdade de duas durações devem ser definidas de tal modo que o enunciado das leis naturais seja tão simples quanto possível. Em outros termos, todas essas regras, todas essas definições são apenas fruto de um oportunismo inconsciente.”

5 Comments

  1. Excelente post. Sempre que explicamos o tempo, dá um nó na cabeça. Mas uma coisa é fato, o tempo não para !!!

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